quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A INTERDEPENDÊNCIA MÚTUA DA COGNIÇÃO E DO AFETO: ATRIBUINDO SENTIDO À APRENDIZAGEM - 2ª PARTE ( FINAL DO SÉCULO XIX)

No final do século XIX, o estudo da interioridade humana, que antes cabia à Filosofia, foi assumido pela recém-nascida Psicologia, que não ficou imune no tocante à busca da idealizada objetividade. A tentativa de fazer da Psicologia uma ciência, com base nos parâmetros disponíveis na época - ou seja, nos critérios das ciências físicas e naturais - fez com que os fenômenos mais difíceis de descrever e medir fossem abandonados, fazendo com que a Psicologia se voltasse para o estudo do comportamento manifesto, entendido como um conjunto de ações ou reações do indivíduo expressas no ambiente e, portanto, capazes de serem observadas e analisadas.

Por influência de Locke (1632-1704), a mente, neste modelo emergente, era vista como uma tábua rasa, uma espécie de folha em branco sobre a qual seriam impressas as sensações advindas do meio ambiente. Assim o conteúdo da mente seria uma cópia isomórfica das contingências e variações do ambiente, e a aprendizagem vista não como uma qualidade intrínseca do organismo, mas necessariamente impulsionada pelo meio.

Por meio de um mecanismo associativo, regido pelos princípios da semelhança, da continuidade espacial e temporal e da casualidade, com o tempo seria acumulada uma série de conhecimentos e, mediante condicionamento, seriam adquiridos determinados padrões de conduta. este modelo, na verdade, era coerente com o paradigma vigente na época.

Watson (1878-1958) e Skinner (1904-1990) foram os principais representantes da ciência psicológica emergente, denominada Behaviorismo  ou Análise Experimental do Comportamento, postulando que se há correspondência entre o ambiente e a mente, não há por que se estudar a mente; bastaria estudar o comportamento.

Com a finalidade de se expandir e corrigir o que se supunha até então em relação a mente humana, era necessário que fossem incorporadas aos estudos acerca da cognição algumas das chamadas variáveis "mentalistas", as quais não poderiam continuar sendo desconsideradas, mas teriam de ser estudadas por métodos cientificamente aceitáveis, sem que a Psicologia precisasse abdicar do seu status científico recentemente conquistado.

Assim, assistiu-se ao nascimento da Ciência Cognitiva, alicerçada especialmente na teoria do Processamento da Informação, a qual contou com o auxílio das novas tecnologias emergentes e dos avanços obtidos por outras áreas de estudo, como a Neurociência, a matemática e a Estatística. A metáfora do computador, isto é, a simulação da mente humana em ambientes computacionais, conhecida como inteligência artificial, possibilitou a criação de modelos mentais, e assim proliferaram estudos sobre diversas funções cognitivas, como a atenção, a percepção, a memória, a organização do conhecimento (conceitos), o processamento e a produção da linguagem, a resolução de problemas e a tomada de decisões.

Na década de 80, um novo tipo de pesquisa, que tem buscado elucidar alguns dos aspectos dinâmicos do conhecimento, passaram a incluir as questões afetivas. A relação entre cognição e afeto passou a ser objeto de estudo, sendo que os pesquisadores, concordando que a cognição e  emoção têm influências recíprocas.

Embora existam posições contrastes quanto ao "o que ocorre primeiro", se o cognitivo ou o afeto, observa-se que a afetividade parece assumir um papel importante na regulação dos comportamentos. E assim como se discute a influência do afeto sobre a cognição, também se avalia o inverso, isto é, de que maneira a cognição ajuda a regular as experiências emocionais. Izard (1989) lembra que é a nossa cognição a resposável pela capacidade de rotular nossos sentimentos e entender as condições que levam a diferentes emoções, bem como pela capacidade que temos de antecipar nossas próprias reações emocionais.

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